segunda-feira, 14 de maio de 2018

Haicaístas Brasileiros

Haikai no Brasil

O primeiro literato a divulgar o haikai no Brasil foi Afrânio Peixoto (1875-1947), em 1919, através de seu livro “Trovas Populares Brasileiras”, o poeta fixa a forma do haicai brasileiro (5-7-5). Em 1922, o haicai em sua forma poética japonesa era discutido e praticado pelos poetas da “Semana de Arte Moderna”. Oswald de Andrade o adota em Pau Brasil (1925). Waldomiro Siqueira Jr., lança em 1933 o primeiro livro de haicais no Brasil. Guimarães Rosa em 1936 recebe prêmio da Academia Brasileira de Letras com “Magma”. Na década de quarenta, Guilherme de Almeida lhe dá a forma de rima adotada por muitos outros poetas. Mas foi Millôr Fernandez que, na revista semanal “O Cruzeiro”, o popularizou, entre milhares de leitores por todo o país. Seus haicais eram seguidos por charges refinadas, e da mesma verve humorística e irônica dos primeiros modernistas:

Millôr Fernandes

Viva o Brasil
onde o ano inteiro
é primeiro de abril
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O pato, menina,
é um animal
com buzina
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Eu sofro de mimfobia
tenho medo de mim mesmo
mas me enfrento todo dia



Afrânio Peixoto

Derrete-se o gelo.
Porém se resfria a água:
Ela fria, eu ardo…
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Quando um galo canta
Os outros todos respondem:
Nenhum quer faltar.


Mario Quintana

Silenciosamente
sem um cacarejo
a Noite põe o ovo da lua…
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O verso é um doido cantando sozinho,
Seu assunto é o caminho. E nada mais!
O caminho que ele próprio inventa……
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Deus tirou o mundo do nada.
Não havia nada mesmo…..
Nem Deus!


Alice Rui

Primavera
até a cadeira
olha pra janela
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Rede ao vento
se retorce de saudade
sem você dentro


Haikai: Poemas japoneses

Haikai é uma das formas poéticas mais conhecidas e apreciadas no Mundo. De origem nipônica, valoriza a concisão e a objetividade. São pequenos poemas que expressam não só a delicada sensibilidade oriental, mas as reações humanas ao mundo que nos cercam. É a arte de dizer o máximo com o mínimo de palavras. Expressão que capta um momento de experiência, um instante em que o simples subitamente revela a sua natureza interior e nos faz olhar de novo o observado, a natureza humana, a vida… 

Os poemas têm três linhas, contendo na primeira e na última cinco caracteres japoneses (totalizando sempre cinco sílabas), e sete caracteres na segunda linha (sete sílabas), podendo ter variações nas diferentes línguas com versos mais curtos ou mais longos.


Em português é escrito Haicai, no Brasil, e Haiku, em Portugal.  A palavra haicai e suas variantes (haicu, haiku, haikai) derivam do japonês haikai, vocábulo composto de hai = brincadeira, gracejo e kai = harmonia, realização.

Em japonês, haikais são tradicionalmente impressos em uma única linha vertical, enquanto o haikai em Língua Portuguesa geralmente aparece em três linhas, em paralelo. Muitas vezes, há uma pintura a acompanhar o haicai ( chamada de haiga).

O formato tem suas raízes na renga, importante manifestação literária da cultura japonesa que remonta ao século XIII. Os versos eram escritos por vários autores, que respondiam a uma forma de “desafio elegante” entre si ao escrever.
Poemas Haikais são tão simples que podem ser escritos por crianças, mas também é o esboço de muito estudo e dedicação. Geralmente  evoca em sua narrativa a  exploração da vida, procurando criar uma imagem de algum pequeno momento, ligado à natureza de alguma forma. Apesar de muitos poemas expressarem um tom melancólico também podem manifestar  humor e diversão.
“Haijin” é o nome que se dá aos escritores desse tipo de poema, entre os mestres do século XVII estão Basho, Buson e Issa. Dentre os muitos que se destacou nesta arte, o principal haijin (ou haicaísta) foi Matsuô Bashô (1644-1694), que se dedicou a fazer do haikai uma prática espiritual. Além de ter feito milhares de seguidores, Basho, pela sua própria vontade, abriu mão de suas atividades remuneradas como crítico e instrutor para viver em recolhimento e pobreza e exercer influência sobre o desenvolvimento posterior da arte do haikai, elevando-o a uma forma de ver e de viver o mundo.
O Haicai mais famoso de Ôshima Ryôta, descreve a curta duração da florada da cerejeira, do desabrochar até a queda das flores. Pode ser também interpretado como uma parábola da existência humana. Face à morte, o homem notará que a mais longa das vidas parecerá ter sido tão fugaz quanto às flores de cerejeira.


Haikais japoneses





Quantas memórias
me trazem à mente
Cerejeiras em flor

Um antigo lago em silêncio …
Um sapo pula na lagoa,
splash! Silêncio novamente.

Bashô



Primeira manha
Até a minha sombra
está cheia de vigor

Issa



No caminho de Shirakawa
uma rapariga vende flores
Primeiro arco-íris

Shimei


Na berma do caminho
florescia uma malva
O cavalo comeu-a

Bashô







Saiba mais em: skdesu



O que é variação linguística?


A variação linguística é um fenômeno natural que ocorre pela diversificação dos sistemas de uma língua em realção às possibilidades de mudança de seus elementos (vocabulário, pronúncia, morfologia, sintaxe). Ela existe porque as línguas possuem a característica de serem dinâmicas e sensíveis a fatores como a região geográfica, o sexo, a idade, a classe social do falante e o grau de formalidade do contexto da comunicação.
É importante observar que toda variação linguística é adequada para atender às necessidades comunicativas e cognitivas do falante. Assim, quando julgamos errada determinada variedade, estamos emitindo um juízo de valor sobre os seus falantes e, portanto, agindo com preconceito linguístico.

Tipos de variação linguística

→ Variedade regional

São aquelas que demonstram a diferença entre as falas dos habitantes de diferentes regiões do país, diferentes estado e cidades. Por exemplo, os falantes do Estado de Minas Gerais possuem uma forma diferente em relação à fala dos falantes do Rio de Janeiro.
Observe a abordagem de variação regional em um poema de Oswald de Andrade:
Vício da fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.

Agora, veja um quadro comparativo de algumas variações de expressões utilizadas nas regiões Nordeste, Norte e Sul:

Região Nordeste
Região Sul
Região Norte
Racha – pelada, jogo de futebol
Campo Santo – cemitério
Miudinho – pequeno
Jerimum – abóbora
Alçar a perna – montar a cavalo
Umborimbora? – Vamos embora?
Sustança – energia dos alimentos
Guacho – animal que foi criado sem mãe
Levou o farelo – morreu

→ Variedades sociais

São variedades que possuem diferenças em nível fonológico ou morfossintático. Veja:

Fonológicos - “prantar” em vez de “plantar”; “bão” em vez de “bom”; “pobrema” em vez de “problema”; “bicicreta” em vez de “bicicleta”.
Morfossintáticos - “dez real” em vez de “dez reais”; “eu vi ela” em vez de “eu a vi”; “eu truci” em vez de “eu trouxe”; “a gente fumo” em vez de “nós fomos”.

→ Variedades estilísticas

São as mudanças da língua de acordo com o grau de formalidade, ou seja, a língua pode variar entre uma linguagem formal ou uma linguagem informal.
Linguagem formal: é usada em situações comunicativas formais, como uma palestra, um congresso, uma reunião empresarial, etc.

Linguagem Informal: é usada em situações comunicativas informais, como reuniões familiares, encontro com amigos, etc. Nesses casos, há o uso da linguagem coloquial.

Gíria ou Jargão: É um tipo de linguagem utilizada por um determinado grupo social, fazendo com que se diferencie dos demais falantes da língua. A gíria é normalmente relacionada à linguagem de grupos de jovens (skatistas, surfistas, rappers, etc.). O jargão é, em geral, relacionadao à linguagem de grupos profissionais (professores, médicos, advogados, etc.)

Por Mariana Rigonatto
Graduada em Letras

Fonte: Brasil escola