- A linguagem literária vem da criatividade e estilística do escritor;
- Utilizam-se recursos como ritmo, rima, organização sintática, entre outros;
- O texto é poético quando apresenta linguagem conotativa (simbólica, figurada);
- Conta, também, com ideias pessoais, sentimentos e emoções do poeta.
Exemplo de texto poético:
Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústica rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
Manuel Bandeira
O conteúdo poético não surge apenas em versos, mas pode ser encontrado também em prosa:
A tua voz! a tua voz! Clamo em vão pela tua voz, procuro-a como por uma ave maravilhosa e a tua voz está estranhamente adormecida no sono...
Está adormecida no sono, muda, calada de gorjear, de cantar na tua garganta e na tua boca, aquela voz que eu sonhara filtrada dos raios do sol, tecida dos raios do sol, de uma prodigiosa essência etérea na qual radiasse o sol, todo o esplendor do sol.
Tu estás nostalgicamente dormindo, e esse sono em tão profundo e misterioso Além te imergiu, que pareces de mármore. E é, assim, em vão que clamo, trêmulo e desvairado, pelo brilho quente dos teus olhos, pela vida da tua voz, que me sacia de vida, que me afoga, que me embriaga de vida.
Cruz e Sousa
A prosa, no geral, procura expressar mais fidelidade e realidade exterior em sua linguagem, usando uma linguagem basicamente denotativa (sentido literal, real):
Caía o crepúsculo esmaecido e dolente por detrás das montanhas longínquas...
ASPECTOS DA LINGUAGEM POÉTICA
Existem alguns recursos de estilo usados pelos autores para obter certos efeitos (em especial sonoros) que tornam a linguagem poética mais rica e expressiva. Entre eles temos:
Reiteração: Repetição de alguns elementos do poema, acentuando ideias básicas.
De repente, não mais que de repente
fez-se de triste o que se fez amante
e de sozinho o que se fez contente
(...)
Vinicius de Moraes
Neste contexto, as repetições intensificam a ideia de rapidez e mudança.
Anáfora: Há repetição constante de um termo ou segmento do poema sempre no início de certos versos.
Quando não tinha nada eu quis
Quando … esperei
Quando tive frio tremi
Aliteração: Reiteração de fonemas constituídos de sons semelhantes, intensificando a musicalidade dos versos.
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Cruz e Sousa
Eco: Reiteração de certos fonemas em final de palavra, criando não só a rima como também uma sonoridade que se espalha por todo o verso.
Na messe que enloirece, estremece a Quermesse;
O sol, o celestial girassol, esmorece...
(...)
Eugênio de Castro
Onomatopeia: Reiteração de alguns sons no sentido de imitar certos ruídos.
Toc,toc,toc
alguém bate à porta,
mas ninguém se importa
Trim,trim,trim
toca o telefone
quem precisa de mim?
alguém bate à porta,
mas ninguém se importa
Trim,trim,trim
toca o telefone
quem precisa de mim?
(...)
Marlene Couto
Paralelismo: Repetição de certa estrutura sintática, em versos sucessivos, intensificando determinadas ideias e sentimentos.
É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos.
(...)
Carlos Drummond de Andrade
Refrão: Ou estribilho, é a repetição de alguns versos, geralmente inteiros, no fim de cada estrofe, o que contribui para reforçar a ideia principal do texto.
O corvo, Edaar Allan Poe
Tradução de Machado de Assis
[...]
Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".
Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".
[...]
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".
[...]
No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"
Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".
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