domingo, 12 de novembro de 2017

Poesia e prosa e aspectos da linguagem poética

1ºs EM


  • A linguagem literária vem da criatividade e estilística do escritor;
  • Utilizam-se recursos como ritmo, rima, organização sintática, entre outros;
  • O texto é poético quando apresenta linguagem conotativa (simbólica, figurada);
  • Conta, também, com ideias pessoais, sentimentos e emoções do poeta.


Exemplo de texto poético:

Desencanto


Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústica rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.



Manuel Bandeira

O conteúdo poético não surge apenas em versos, mas pode ser encontrado também em prosa:

A tua voz! a tua voz! Clamo em vão pela tua voz, procuro-a como por uma ave maravilhosa e a tua voz está estranhamente adormecida no sono...
Está adormecida no sono, muda, calada de gorjear, de cantar na tua garganta e na tua boca, aquela voz que eu sonhara filtrada dos raios do sol, tecida dos raios do sol, de uma prodigiosa essência etérea na qual radiasse o sol, todo o esplendor do sol.
Tu estás nostalgicamente dormindo, e esse sono em tão profundo e misterioso Além te imergiu, que pareces de mármore. E é, assim, em vão que clamo, trêmulo e desvairado, pelo brilho quente dos teus olhos, pela vida da tua voz, que me sacia de vida, que me afoga, que me embriaga de vida.

Cruz e Sousa

A prosa, no geral, procura expressar mais fidelidade e realidade exterior em sua linguagem, usando uma linguagem basicamente denotativa (sentido literal, real):

Caía o crepúsculo esmaecido e dolente por detrás das montanhas longínquas... 

ASPECTOS DA LINGUAGEM POÉTICA

Existem alguns recursos de estilo usados pelos autores para obter certos efeitos (em especial sonoros) que tornam a linguagem poética mais rica e expressiva. Entre eles temos:

Reiteração: Repetição de alguns elementos do poema, acentuando ideias básicas.

De repente, não mais que de repente
fez-se de triste o que se fez amante
e de sozinho o que se fez contente
(...)
Vinicius de Moraes

Neste contexto, as repetições intensificam a ideia de rapidez e mudança.

Anáfora: Há repetição constante de um termo ou segmento do poema sempre no início de certos versos.

Quando não tinha nada eu quis
Quando … esperei
Quando tive frio tremi
Aliteração: Reiteração de fonemas constituídos de sons semelhantes, intensificando a musicalidade dos versos.
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Cruz e Sousa
Eco: Reiteração de certos fonemas em final de palavra, criando não só a rima como também uma sonoridade que se espalha por todo o verso.
Na messe que enloirece, estremece a Quermesse;
O sol, o celestial girassol, esmorece...
(...)
Eugênio de Castro

Onomatopeia: Reiteração de alguns sons no sentido de imitar certos ruídos.
Toc,toc,toc
alguém bate à porta,
mas ninguém se importa

Trim,trim,trim
toca o telefone
quem precisa de mim?
(...)
Marlene Couto
Paralelismo: Repetição de certa estrutura sintática, em versos sucessivos, intensificando determinadas ideias e sentimentos.

É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos.
(...)
Carlos Drummond de Andrade

Refrão: Ou estribilho, é a repetição de alguns versos, geralmente inteiros, no fim de cada estrofe, o que contribui para reforçar a ideia principal do texto.

O corvo, Edaar Allan Poe
Tradução de Machado de Assis
[...]
Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".
Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".
[...]
No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"
Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".




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