Contexto histórico:
- · Foi um estilo de época ocorrido durante a Idade Média (período que começou com o fim do Império Romano);
- · Marcada por dois períodos: Alta Idade Média (século V ao XI) e Baixa Idade Média (século XII ao XV). Deu lugar ao Renascimento;
- · A primeira fase, também chamada de “Época das trevas”, foi voltada ao Feudalismo (que englobava todo o sistema econômico, político e social);
- · No feudalismo, o poder se concentrava no senhor feudal, ou suserano (proprietário de uma grande extensão de terras, chamada feudo). Este cedia uma proporção de terras ao vassalo visando lucros, este recebia em troca proteção militar e judicial. Com isso, havia o servilismo, e esta relação chamava-se vassalagem;
- · Ideologia dominante era o teocentrismo (Deus como centro de tudo). Logo, havia um pacto de aliança entre os senhores feudais e a igreja;
- · Pregava-se a renúncia aos bens materiais e aos prazeres, como condição para a salvação da alma. Este contexto se fundamentava no Santo Ofício (Santa Inquisição), que perseguia, torturava e matava os considerados hereges (ato de atentar contra os preceitos da fé cristã);
- · A partir do século XII iniciou-se um período fortemente caracterizado pela reativação do comércio, possibilitando o crescimento econômico e renovando a cultura. Época, também, da expansão do trovadorismo em Portugal, quando o país conquistava sua independência política.
Produção literária:
- · As cantigas trovadorescas se baseavam em composições poéticas cantadas e acompanhadas por instrumentos musicais (viola, lira, harpa, flauta, alaúde e pandeiro, etc.);
- · Os trovadores as compunham. Entre eles havia hierarquia (baseada na função desempenhada) e funcionava como status. Os trovadores eram poetas da corte que compunham sem preocupações financeiras. Os jograis, segréis ou menestréis eram homens com condição social inferior, que iam de castelo em castelo, no intuito de entreter a nobreza, em troca de alguma forma de pagamento. Já a soldadeira ou jogralesca era moça que dançava, tocava castanhola ou pandeiro e cantava;
- · Entre as cantigas destacavam-se dois grupos: A cantiga lírica e a satírica, cujo idioma predominante era o galego-português;
- Cantigas líricas:
- · Vinda do sul da França, ela refletia a estrutura da sociedade feudal, onde a vassalagem se voltava para as relações amorosas;
- · Cantigas de amor: falante declara seu amor por uma dama da corte, onde expressa seu sofrimento (coita) de amor, por conta da impossibilidade da relação causada pela diferença de classes sociais (ela, esposa ou filha de nobre, e ele servo). Sofrimento, prisioneiro de uma paixão inatingível (amor cortês, vassalagem amorosa);
- · As cantigas de amor são constituídas de versos rimados, em duas ou três estrofes, divididas em cantigas de amor de refrão e de mestria (sem refrão);
- · Cantigas de amigo: Se retratava a vida nos arredores dos palácios, vilas e no campo. O ponto de vista é o da mulher (enunciador feminino). Cantada pela figura masculina (a mulher não tinha direito à alfabetização), a voz é feminina, saindo do plano idealizado e indo para o concreto;
- · A temática é a saudade da vida cotidiana, relacionada a temas como a saudade do amigo (amante) que saiu para a guerra, ao ciúme, indignação, vaidade, etc. Linguagem e estrutura mais simples do que as cantigas de amor, contendo às vezes diálogos, onde o receptor é Deus ou elementos da natureza. Mulher camponesa, cenário campestre.
- Cantigas satíricas:
- · Retratam o mundo boêmio e marginal vivido pelos jograis, fidalgos, bailarinas e artistas da corte, representado por um código de ética próprio, com hábitos e costumes não convencionais à sociedade vigente;
- · Cantigas de escárnio e de maldizer: a temática volta-se às críticas aos seres sociais (homens sovinas, padres devassos, etc.);
- · As cantigas de escárnio eram críticas mais sutis e indiretas, com linguagem mais velada. Não era revelado o nome da pessoa;
- · As cantigas de maldizer criticavam de forma direta, com linguagem mesquinhas, palavrões e obscenidades, e citava o nome do indivíduo.
Exemplo de cantiga de amor:
Cantiga da Ribeirinha
No mundo non me sei parelha,
entre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e - ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraya
Quando vos eu vi em saya!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, desdaqueldi, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
Dhaver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia dua correa.
Paio Soares de Taveirós
entre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e - ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraya
Quando vos eu vi em saya!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, desdaqueldi, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
Dhaver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia dua correa.
Paio Soares de Taveirós
Vocabulário:
Nom me sei parelha: não conheço ninguém igual a mim.
Mentre: enquanto.
Ca: pois.
Branca e vermelha: a cor branca da pele, contrastando com o vermelho do rosto, rosada.
Retraya: descreva, pinte, retrate.
En saya: na intimidade; sem manto.
Que: pois.
Des: desde.
Semelha: parece.
D’haver eu por vós: que eu vos cubra.
Guarvaya: manto vermelho que geralmente é usado pela nobreza.
Alfaya: presente.
Valia d’ua correa: objeto de pequeno valor.
Nom me sei parelha: não conheço ninguém igual a mim.
Mentre: enquanto.
Ca: pois.
Branca e vermelha: a cor branca da pele, contrastando com o vermelho do rosto, rosada.
Retraya: descreva, pinte, retrate.
En saya: na intimidade; sem manto.
Que: pois.
Des: desde.
Semelha: parece.
D’haver eu por vós: que eu vos cubra.
Guarvaya: manto vermelho que geralmente é usado pela nobreza.
Alfaya: presente.
Valia d’ua correa: objeto de pequeno valor.
Exemplo de cantiga de amigo:
Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
Ai flores, ai
flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
Se sabedes
novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?
Se sabedes
novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?
(...)
D. Dinis
Exemplo de cantiga de escárnio:
Ai, dona
fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!...
João Garcia de Guilhade
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!...
João Garcia de Guilhade
Exemplo de cantiga de maldizer:
Roi queimado
morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!...
Pero Garcia Burgalês
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!...
Pero Garcia Burgalês
CANTIGAS LÍRICAS DE AMOR
DE AMIGO
DE AMIGO
Fontes:
Imagem: DivulgaçãoExercícios:
1)
Em que período histórico ocorreu o
Trovadorismo? Fale sobre ele.
2)
Onde o Trovadorismo existiu? Por que não o
tivemos no Brasil?
3)
Fale sobre a produção literária do Trovadorismo.
4)
Qual era a estrutura das cantigas?
5)
Quem escrevia as cantigas e quem era o eu
lírico? Sobre o que elas falavam?
ATIVIDADE DE PRODUÇÃO PARA NOTA: Produza um texto em forma de cantiga.
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