quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Atividades 4º bimestre

Atividades e lições do 4º bimestre:

1ºs EM:

Caderno:
T1 - Verbo (revisão);
A1 - Atividade de verbos;
T2 - Resenha crítica (revisão);
T3 - Figuras de linguagem (revisão);
T4 - Cordel;
T5 - Barroco;
T6 - Textos informativos - Folder;
T7 - Poesia e prosa.
Nota de caderno - 0 a 10.
Atividade de verbo - 2 pts.

Atividades para pontos:
Resenha (cópia) de livros que caiam no vestibular (3 pts);
Resenha crítica do conto "Venha Ver o pôr-do-sol, de L.F. Telles (leitura de conto e produção de resenha) (4 pts);
Atividade extra (1 pt).

Atividades para notas:
Leitura de notícia (fome) e produção de: Poema, crônica e cartaz (sulfite) - produção e entrega;
Trabalho de Halloween;
Avaliações AAP (diagnósticas), 2 notas;
Trabalho da feira cultural;
Notas de 0 a 10.

Atividade de compensação de faltas: Dissertação argumentativa, 20 a 30 linhas, tema livre porém de aspecto relevante para a sociedade + Pesquisa e conclusão sobre Barroco e Cordel;
Atividade de recuperação bimestral/ final: Resumo de toda a matéria do semestre (desde agosto) com conclusão.

2ºs EM:

Caderno:
T1 - Redação para ENEM;
T2 - Simbolismo;
T3 - Cruz e Sousa;
T4 - Textos alegóricos;
A5 - Exercícios de Simbolismo;
T6 - Literatura regionalista.
Nota de caderno - 0 a 10.

Atividades para pontos:
Artigo  de opinião - Leitura do artigo publicado no blog e opinião sobre ele; Produção de artigo de opinião com o tema: Respeito e igualdade;
Leitura de texto (feminismo sem azedume) e produção de poema e crônica dentro do tema solicitado.
Totalizando nota de 0 a 10.

Atividades para notas:
Atividade para a feira cultural - Cartaz com colagem;
Reportagem (forma e conteúdo) sobre uma região de SP;
Notas de 0 a 10.

Atividade de compensação de faltas: Dissertação argumentativa, 20 a 30 linhas, tema livre porém de aspecto relevante para a sociedade + Pesquisa e conclusão sobre Simbolismo e literatura regionalista;
Atividade de recuperação bimestral/ final: Resumo de toda a matéria do semestre (desde agosto) com conclusão.

9º EF2 (inglês):

Apostila - Situações de aprendizagem 5 a 8;
Halloween - produção em sala e entrega de trabalho para exposição;
Palavras cruzadas, com questões e respostas em inglês + gabarito.
Notas de 0 a 10.

Atividade de compensação de faltas: Pesquisa sobre: tecnologia e invenções; Previsões (tempo futuro); adjetivos na forma comparativa - em inglês.
Atividade de recuperação: Uma página de diário (fictício sobre você); Uma página autobiográfica (Dados pessoais, expectativas para o futuro, gostos, etc.); entrega da apostila completa.


Para todas as turmas: Prazo máximo para entrega das atividades - Sexta-feira, dia 24/11.
Prazo máximo para caderno - terça-feira, dia 28/11, ou quarta-feira, 29/11 para quem não tem aula comigo na terça.
Quarta-feira sairá o resultado das recuperações. Entrega até a primeira semana de dezembro.
Compensação de faltas: Entrega até 29/11.





quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Literatura regionalista

2ºs EM.



  • O Regionalismo se desenvolveu na literatura brasileira a partir do Romantismo, e produz até hoje boas obras;
  • Sua intenção principal é a descrição dos tipos humanos, hábitos e modos de falar característicos de certa região distante dos centros urbanos;
  • Acentuam-se diferenças entre os indivíduos que vivem na cidade e os que vivem nos centros isolados, distantes do progresso e desenvolvimento urbanos;
  • Essas diferenças se destacam na linguagem, nos hábitos sociais, no modo de encarar a vida, entre outros;
  • Se originou no Romantismo e se desenvolveu de forma a idealizar a vida no interior do Brasil;
  • Com espírito nacionalista e sentimental, o regionalismo era um meio dos românticos de valorizar o homem do interior, sendo considerado o verdadeiro homem brasileiro, livre das influências e da corrupção dos grandes centros urbanos;
  • Dentre os autores românticos, destacam-se José de Alencar e Bernardo Guimarães;
  • Durante o Realismo e Naturalismo, no século XIX, a tendência regionalista continuou sendo desenvolvida, porém sem as intenções idealizadora e sentimental do Romantismo;
  • Enquanto o Romantismo iniciou essa tendência sob forma idealizadora e sentimental, o Realismo e Naturalismo retratam de modo mais objetivo e profundo a vida e os grupos humanos do interior, descrevendo com mais objetividade e senso crítico os aspectos mais importantes da vida e das sociedades do interior do Brasil, em um momento em que o progresso das cidades começava a invadir o sertão, ameaçando descaracterizar a vida rural;
  • Dos autores dessa última fase se destacam Domingos Olímpio e Manuel de Oliveira Paiva;
  • Após o Naturalismo surgiram escritores, como Simões Lopes Neto, que produziram boas obras nessa linha regionalista, preparando o terreno para o surgimento, mais tarde, do regionalismo moderno, importante tendência em que se destacam nomes como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Raquel de Queiroz e outros.
  • Uma das intenções era a fixação da linguagem peculiar das regiões do interior, logo os escritores preocuparam-se em trazer para a língua literária os falares e dialetos populares;
  • No fim do século XIX e início do século XX principalmente, houve interesse dos autores em conhecer e reproduzir literariamente esses falares regionais. Essa tentativa de incorporar a língua falada à literatura despertou a atenção de muitos outros escritores, fazendo com que procurassem observar a riqueza e as belezas ocultas do falar popular, o que veio a ser uma das preocupações mais importantes do regionalismo moderno.






domingo, 12 de novembro de 2017

Recursos da linguagem poética

Revisão, 1ºs EM

Elementos poéticos:


Verso: Cada linha do poema.

Estrofe: Conjunto de versos.

Rima: Semelhança sonora entre as palavras, seja no final ou no meio dos versos (rima interna).

Métrica: medida do verso de uma poesia.
A metrificação estuda a medida de cada verso, e a escansão é a contagem das sílabas poéticas.
O verso é denominado de acordo com sua contagem de sílabas poéticas:


  • Verso monossílabo: 1 sílaba poética.
  • Verso dissílabo: 2 sílabas poéticas.
  • Verso trissílabo: 3 sílabas poéticas.
  • Verso tetrassílabo: 4 sílabas poéticas.
  • Verso pentassílabo ou redondilha menor: 5 sílabas poéticas.
  • Verso hexassílabo ou heroico quebrado: 6 sílabas poéticas.
  • Verso heptassílabo ou redondilha maior: 7 sílabas poéticas.
  • Verso octossílabo: 8 sílabas poéticas.
  • Verso eneassílabo: 9 sílabas poéticas.
  • Verso decassílabo ou heroico: 10 sílabas poéticas.
  • Verso hendecassílabo: 11 sílabas poéticas.
  • Verso dodecassílabo ou alexandrino: 12 sílabas poéticas.
  • Verso bárbaro: 13 ou mais silabas poéticas.


Exemplo de escansão:
O/ poe/ ta é/ um/ fin/ gi/ dor - 7 Sílabas literárias
O/ po/ e/ ta/ é/ um/ fin/ gi/ dor - 9 Sílabas gramaticais

Ritmo: É a medida que resulta das pausas determinadas pelas sílabas fortes e várias cadências, mais ou menos regulares, que nos transmitem uma impressão agradável e musical. é o “elemento essencial do verso,” ( Celso Cunha,).
O padrão rítmico do verso pode depender da duração das sílabas (caso dos versos gregos e latinos) ou da acentuação, (como em português).

Poesia e prosa e aspectos da linguagem poética

1ºs EM


  • A linguagem literária vem da criatividade e estilística do escritor;
  • Utilizam-se recursos como ritmo, rima, organização sintática, entre outros;
  • O texto é poético quando apresenta linguagem conotativa (simbólica, figurada);
  • Conta, também, com ideias pessoais, sentimentos e emoções do poeta.


Exemplo de texto poético:

Desencanto


Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústica rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.



Manuel Bandeira

O conteúdo poético não surge apenas em versos, mas pode ser encontrado também em prosa:

A tua voz! a tua voz! Clamo em vão pela tua voz, procuro-a como por uma ave maravilhosa e a tua voz está estranhamente adormecida no sono...
Está adormecida no sono, muda, calada de gorjear, de cantar na tua garganta e na tua boca, aquela voz que eu sonhara filtrada dos raios do sol, tecida dos raios do sol, de uma prodigiosa essência etérea na qual radiasse o sol, todo o esplendor do sol.
Tu estás nostalgicamente dormindo, e esse sono em tão profundo e misterioso Além te imergiu, que pareces de mármore. E é, assim, em vão que clamo, trêmulo e desvairado, pelo brilho quente dos teus olhos, pela vida da tua voz, que me sacia de vida, que me afoga, que me embriaga de vida.

Cruz e Sousa

A prosa, no geral, procura expressar mais fidelidade e realidade exterior em sua linguagem, usando uma linguagem basicamente denotativa (sentido literal, real):

Caía o crepúsculo esmaecido e dolente por detrás das montanhas longínquas... 

ASPECTOS DA LINGUAGEM POÉTICA

Existem alguns recursos de estilo usados pelos autores para obter certos efeitos (em especial sonoros) que tornam a linguagem poética mais rica e expressiva. Entre eles temos:

Reiteração: Repetição de alguns elementos do poema, acentuando ideias básicas.

De repente, não mais que de repente
fez-se de triste o que se fez amante
e de sozinho o que se fez contente
(...)
Vinicius de Moraes

Neste contexto, as repetições intensificam a ideia de rapidez e mudança.

Anáfora: Há repetição constante de um termo ou segmento do poema sempre no início de certos versos.

Quando não tinha nada eu quis
Quando … esperei
Quando tive frio tremi
Aliteração: Reiteração de fonemas constituídos de sons semelhantes, intensificando a musicalidade dos versos.
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Cruz e Sousa
Eco: Reiteração de certos fonemas em final de palavra, criando não só a rima como também uma sonoridade que se espalha por todo o verso.
Na messe que enloirece, estremece a Quermesse;
O sol, o celestial girassol, esmorece...
(...)
Eugênio de Castro

Onomatopeia: Reiteração de alguns sons no sentido de imitar certos ruídos.
Toc,toc,toc
alguém bate à porta,
mas ninguém se importa

Trim,trim,trim
toca o telefone
quem precisa de mim?
(...)
Marlene Couto
Paralelismo: Repetição de certa estrutura sintática, em versos sucessivos, intensificando determinadas ideias e sentimentos.

É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos.
(...)
Carlos Drummond de Andrade

Refrão: Ou estribilho, é a repetição de alguns versos, geralmente inteiros, no fim de cada estrofe, o que contribui para reforçar a ideia principal do texto.

O corvo, Edaar Allan Poe
Tradução de Machado de Assis
[...]
Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".
Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".
[...]
No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"
Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".




quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Barroco

Conteúdo complementar para a aula.
1ºs EM.


  • Dominou a arquitetura, a pintura, a literatura e a música na Europa do século XVII;
  • Existiu entre final do século XVI e meados do século XVII, no final do Renascimento;
  • No contexto histórico, há reforma católica, em oposição à Reforma Protestante, reafirmando o poder da igreja, além do fim das navegações;
  • Dualismo: Afirmação do homem e a religiosidade. Atitudes contraditórias em relação ao mundo, vida, sentimentos e ao próprio artista;
  • A literatura barroca foi introduzida no Brasil pelos Jesuítas;
  • Por não haver produção cultural significativa no país, refletia a de Portugal.




Principais características: arte rebuscada e exagerada; valorização do detalhe; dualismo e contradições; obscuridade, complexidade e sensualismo; na literatura, cultismo (forma textual) e conceptismo (conteúdo); hipérbole, sinestesia, antítese, paradoxo, metáfora, etc.

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“A Lâmpada do Sol tinha encuberto,
Ao Mundo, sua luz serena e pura,
E a irmã dos três nomes descuberto
A sua tersa e circular figura.
Lá do portal de Dite, sempre aberto,
Tinha chegado, com a noite escura,
Morfeu, que com subtis e lentos passos
Atar vem dos mortais os membros lassos.”
(Trecho da obra “Prosopopeia” de Bento Teixeira)






Escultura de Aleijadinho


Escultura de Aleijadinho





Literatura de cordel

Material de apoio para o tema.
1ºs EM.




  • Manifestação da cultura popular brasileira;
  • Regional, principalmente nordestina;
  • Nasceu na Europa durante o Renascimento;
  • Literatura feita em versos, para ser falado (declamado), possui rima,métrica, verso e oralidade;
  • Impressos e divulgados não em livros, mas em folhetos (vendidos em feiras);
  • As xilogravuras ilustravam as capas e o conteúdo;
  • Linguagem coloquial e temas populares (folclore, política, religioso, profano, social, histórico, etc.);
  • Existência da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC).



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sábado, 28 de outubro de 2017

Conto - Lygia Fagundes Telles

1ºs. Para leitura e resenha crítica.


Venha ver o pôr do sol – Lygia Fagundes Telles


ELA SUBIU sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.
Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos.
– Vejam que lama. Só mesmo você inventaria um encontro num lugar destes. Que idéia, Ricardo, que idéia! Tive que descer do taxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima.
– Jamais, não é? Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância…Quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete-léguas, lembra?
– Foi para falar sobre isso que você me fez subir até aqui? – perguntou ela, guardando as luvas na bolsa. Tirou um cigarro. – Hem?!
– Ah, Raquel… – e ele tomou-a pelo braço rindo.
– Você está uma coisa de linda. E fuma agora uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado…Juro que eu tinha que ver uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então fiz mal?
– Podia ter escolhido um outro lugar, não? – Abrandara a voz – E que é isso aí? Um cemitério?
Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem.
– Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo – acrescentou, lançando um olhar às crianças rodando na sua ciranda. Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. Sorriu. – Ricardo e suas idéias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
– Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo do mundo.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada.
– Ver o pôr do sol!…Ah, meu Deus…Fabuloso, fabuloso!…Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma! E para quê? Para ver o pôr do sol num cemitério…
Ele riu também, afetando encabulamento como um menino pilhado em falta.
– Raquel minha querida, não faça assim comigo. Você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu apartamento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível. Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fechadura…
– E você acha que eu iria?
– Não se zangue, sei que não iria, você está sendo fidelíssima. Então pensei, se pudéssemos conversar um instante numa rua afastada…- disse ele, aproximando-se mais. Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos. Ficou sério. E aos poucos, inúmeras rugazinhas foram se formando em redor dos seus olhos ligeiramente apertados. Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta. Não era nesse instante tão jovem como aparentava. Mas logo sorriu e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígio. Voltou-lhe novamente o ar inexperiente e meio desatento –Você fez bem em vir.
– Quer dizer que o programa… E não podíamos tomar alguma coisa num bar?
– Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
– Mas eu pago.
– Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi este passeio porque é de graça e muito decente, não pode haver passeio mais decente, não concorda comigo? Até romântico.
Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava.
– Foi um risco enorme Ricardo. Ele é ciumentíssimo. Está farto de saber que tive meus casos. Se nos pilha juntos, então sim, quero ver se alguma das suas fabulosas idéias vai me consertar a vida.
– Mas me lembrei deste lugar justamente porque não quero que você se arrisque, meu anjo. Não tem lugar mais discreto do que um cemitério abandonado, veja, completamente abandonado – prosseguiu ele, abrindo o portão. Os velhos gonzos gemeram. – Jamais seu amigo ou um amigo do seu amigo saberá que estivemos aqui.
– É um risco enorme, já disse . Não insista nessas brincadeiras, por favor. E se vem um enterro? Não suporto enterros.
– Mas enterro de quem? Raquel, Raquel, quantas vezes preciso repetir a mesma coisa?! Há séculos ninguém mais é enterrado aqui, acho que nem os ossos sobraram, que bobagem. Vem comigo, pode me dar o braço, não tenha medo…
O mato rasteiro dominava tudo. E, não satisfeito de ter se alastrado furioso pelos canteiros, subira pelas sepulturas, infiltrando-se ávido pelos rachões dos mármores, invadira alamedas de pedregulhos esverdinhados, como se quisesse com a sua violenta força de vida cobrir para sempre os últimos vestígios da morte. Foram andando vagarosamente pela longa alameda banhada de sol. Os passos de ambos ressoavam sonoros como uma estranha música feita do som das folhas secas trituradas sobre os pedregulhos. Amuada mas obediente, ela se deixava conduzir como uma criança. Às vezes mostrava certa curiosidade por uma ou outra sepultura com os pálidos medalhões de retratos esmaltados.
– É imenso, hem? E tão miserável, nunca vi um cemitério mais miserável, é deprimente – exclamou ela atirando a ponta do cigarro na direção de um anjinho de cabeça decepada.- Vamos embora, Ricardo, chega.
– Ah, Raquel, olha um pouco para esta tarde! Deprimente por quê? Não sei onde foi que eu li, a beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da tarde, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa ambigüidade. Estou lhe dando um crepúsculo numa bandeja e você se queixa.
– Não gosto de cemitério, já disse. E ainda mais cemitério pobre.
Delicadamente ele beijou-lhe a mão.
– Você prometeu dar um fim de tarde a este seu escravo.
– É, mas fiz mal. Pode ser muito engraçado, mas não quero me arriscar mais.
– Ele é tão rico assim?
– Riquíssimo. Vai me levar agora numa viagem fabulosa até o Oriente. Já ouviu falar no Oriente? Vamos até o Oriente, meu caro…
Ele apanhou um pedregulho e fechou-o na mão. A pequenina rede de rugas voltou a se estender em redor dos seus olhos. A fisionomia, tão aberta e lisa, repentinamente escureceu, envelhecida. Mas logo o sorriso reapareceu e as rugazinhas sumiram.
– Eu também te levei um dia para passear de barco, lembra?
Recostando a cabeça no ombro do homem, ela retardou o passo.
– Sabe Ricardo, acho que você é mesmo tantã…Mas, apesar de tudo, tenho às vezes saudade daquele tempo. Que ano aquele! Palavra que, quando penso, não entendo até hoje como agüentei tanto, imagine um ano.
– É que você tinha lido A dama das Camélias, ficou assim toda frágil, toda sentimental. E agora? Que romance você está lendo agora. Hem?
– Nenhum – respondeu ela, franzindo os lábios. Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçada: – A minha querida esposa, eternas saudades – leu em voz baixa. Fez um muxoxo.- Pois sim. Durou pouco essa eternidade.
Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto. Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos. Veja- disse, apontando uma sepultura fendida, a erva daninha brotando insólita de dentro da fenda -, o musgo já cobriu o nome na pedra. Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas…Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso.
Ela aconchegou-se mais a ele. Bocejou.
– Está bem, mas agora vamos embora que já me diverti muito, faz tempo que não me divirto tanto, só mesmo um cara como você podia me fazer divertir assim – Deu-lhe um rápido beijo na face. – Chega Ricardo, quero ir embora.
– Mais alguns passos…
– Mas este cemitério não acaba mais, já andamos quilômetros! – Olhou para atrás. – Nunca andei tanto, Ricardo, vou ficar exausta.
– A boa vida te deixou preguiçosa. Que feio – lamentou ele, impelindo-a para frente. – Dobrando esta alameda, fica o jazigo da minha gente, é de lá que se vê o pôr do sol. – E, tomando-a pela cintura: – Sabe, Raquel, andei muitas vezes por aqui de mãos dadas com minha prima. Tínhamos então doze anos. Todos os domingos minha mãe vinha trazer flores e arrumar nossa capelinha onde já estava enterrado meu pai. Eu e minha priminha vínhamos com ela e ficávamos por aí, de mãos dadas, fazendo tantos planos. Agora as duas estão mortas.
– Sua prima também?
– Também. Morreu quando completou quinze anos. Não era propriamente bonita, mas tinha uns olhos…Eram assim verdes como os seus, parecidos com os seus. Extraordinário, Raquel, extraordinário como vocês duas…Penso agora que toda a beleza dela residia apenas nos olhos, assim meio oblíquos, como os seus.
– Vocês se amaram?
– Ela me amou. Foi a única criatura que…- Fez um gesto. – Enfim não tem importância.
Raquel tirou-lhe o cigarro, tragou e depois devolveu-o
– Eu gostei de você, Ricardo.
– E eu te amei. E te amo ainda. Percebe agora a diferença?
Um pássaro rompeu o cipreste e soltou um grito. Ela estremeceu.
– Esfriou, não? Vamos embora.
– Já chegamos, meu anjo. Aqui estão meus mortos.
Pararam diante de uma capelinha coberta de alto a baixo por uma trepadeira selvagem, que a envolvia num furioso abraço de cipós e folhas. A estreita porta rangeu quando ele a abriu de par em par. A luz invadiu um cubículo de paredes enegrecidas, cheias de estrias de antigas goteiras. No centro do cubículo, um altar meio desmantelado, coberto por uma toalha que adquirira a cor do tempo. Dois vasos de desbotada opalina ladeavam um tosco crucifixo de madeira. Entre os braços da cruz, uma aranha tecera dois triângulos de teias já rompidas, pendendo como farrapos de um manto que alguém colocara sobre os ombro do Cristo. Na parede lateral, à direita da porta, uma portinhola de ferro dando acesso para uma escada de pedra, descendo em caracol para a catacumba.
Ela entrou na ponta dos pés, evitando roçar mesmo de leve naqueles restos da capelinha.
– Que triste é isto, Ricardo. Nunca mais você esteve aqui?
Ele tocou na face da imagem recoberta de poeira. Sorriu melancólico.
– Sei que você gostaria de encontrar tudo limpinho, flores nos vasos, velas, sinais da minha dedicação, certo?
– Mas já disse que o que eu mais amo neste cemitério é precisamente esse abandono, esta solidão. As pontes com o outro mundo foram cortadas e aqui a morte se isolou total. Absoluta.
Ela adiantou-se e espiou através das enferrujadas barras de ferro da portinhola. Na semi-obscuridade do subsolo, os gavetões se estendiam ao longo das quatro paredes que formavam um estreito retângulo cinzento.
– E lá embaixo?
– Pois lá estão as gavetas. E, nas gavetas, minhas raízes. Pó, meu anjo, pó- murmurou ele. Abriu a portinhola e desceu a escada. Aproximou-se de uma gaveta no centro da parede, segurando firme na alça de bronze, como se fosse puxá-la. – A cômoda de pedra. Não é grandiosa?
Detendo-se no topo da escada, ela inclinou-se mais para ver melhor.
– Todas estas gavetas estão cheias?
– Cheias?…- Sorriu.- Só as que tem o retrato e a inscrição, está vendo? Nesta está o retrato da minha mãe, aqui ficou minha mãe- prosseguiu ele, tocando com as pontas dos dedos num medalhão esmaltado, embutido no centro da gaveta.
Ela cruzou os braços. Falou baixinho, um ligeiro tremor na voz.
– Vamos, Ricardo, vamos.
– Você está com medo?
– Claro que não, estou é com frio. Suba e vamos embora, estou com frio!
Ele não respondeu. Adiantara-se até um dos gavetões na parede oposta e acendeu um fósforo. Inclinou-se para o medalhão frouxamente iluminado:
– A priminha Maria Emília. Lembro-me até do dia em que tirou esse retrato. Foi umas duas semanas antes de morrer… Prendeu os cabelos com uma fita azul e vejo-a se exibir, estou bonita? Estou bonita?…- Falava agora consigo mesmo, doce e gravemente.- Não, não é que fosse bonita, mas os olhos…Venha ver, Raquel, é impressionante como tinha olhos iguais aos seus.
Ela desceu a escada, encolhendo-se para não esbarrar em nada.
– Que frio que faz aqui. E que escuro, não estou enxergando…
Acendendo outro fósforo, ele ofereceu-o à companheira.
– Pegue, dá para ver muito bem…- Afastou-se para o lado.- Repare nos olhos.
– Mas estão tão desbotados, mal se vê que é uma moça…- Antes da chama se apagar, aproximou-a da inscrição feita na pedra. Leu em voz alta, lentamente.- Maria Emília, nascida em vinte de maio de mil oitocentos e falecida…- Deixou cair o palito e ficou um instante imóvel – Mas esta não podia ser sua namorada, morreu há mais de cem anos! Seu menti…
Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou o olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha seu sorriso meio inocente, meio malicioso.
– Isto nunca foi o jazigo da sua família, seu mentiroso? Brincadeira mais cretina! – exclamou ela, subindo rapidamente a escada. – Não tem graça nenhuma, ouviu?
Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
– Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, imediatamente! – ordenou, torcendo o trinco.- Detesto esse tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida!
– Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastando devagarinho, bem devagarinho. Você terá o pôr do sol mais belo do mundo.
Ela sacudia a portinhola.
– Ricardo, chega, já disse! Chega! Abre imediatamente, imediatamente!- Sacudiu a portinhola com mais força ainda, agarrou-se a ela, dependurando-se por entre as grades. Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas. Ensaiou um sorriso. – Ouça, meu bem, foi engraçadíssimo, mas agora preciso ir mesmo, vamos, abra…
Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuídos. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.
– Boa noite, Raquel.
– Chega, Ricardo! Você vai me pagar!… – gritou ela, estendendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo.- Cretino! Me dá a chave desta porcaria, vamos!- exigiu, examinando a fechadura nova em folha. Examinou em seguida as grades cobertas por uma crosta de ferrugem. Imobilizou-se. Foi erguendo o olhar até a chave que ele balançava pela argola, como um pêndulo. Encarou-o, apertando contra a grade a face sem cor. Esbugalhou os olhos num espasmo e amoleceu o corpo. Foi escorregando.
– Não, não…
Voltado ainda para ela, ele chegara até a porta e abriu os braços. Foi puxando as duas folhas escancaradas.
– Boa noite, meu anjo.
Os lábios dela se pregavam um ao outro, como se entre eles houvesse cola. Os olhos rodavam pesadamente numa expressão embrutecida.
– Não…
Guardando a chave no bolso, ele retomou o caminho percorrido. No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos. E, de repente, o grito medonho, inumano:
– NÃO!
Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remotos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda.
Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinham um jeito jovial de estudante.
– Minha querida Raquel.
Ele sorriu entre malicioso e ingênuo.

Lygia Fagundes Telles In:.Antes do Baile Verde. 1970

Artigo de opinião

2ºs, para leitura e observação de estrutura.


 Viver em sociedade

Dalmo de Abreu Dallari
    A sociedade humana é um conjunto de pessoas ligadas pela necessidade de se ajudarem umas às outras, a fim de que possam garantir a continuidade da vida e satisfazer seus interesses e desejos.
    Sem vida em sociedade, as pessoas não conseguiriam sobreviver, pois o ser humano, durante muito tempo, necessita de outros para conseguir alimentação e abrigo. E no mundo moderno, com a grande maioria das pessoas morando na cidade, com hábitos que tornam necessários muitos bens produzidos pela indústria, não há quem não necessite dos outros muitas vezes por dia.
    Mas as necessidades dos seres humanos não são apenas de ordem material, como os alimentos, a roupa, a moradia, os meios de transporte e os cuidados de saúde. Elas são também de ordem espiritual e psicológica. Toda pessoa humana necessita de afeto, precisa amar e sentir-se amada, quer sempre que alguém lhe dê atenção e que todos a respeitem. Além disso, todo ser humano tem suas crenças, tem sua fé em alguma coisa, que é a base de suas esperanças.
    Os seres humanos não vivem juntos, não vivem em sociedade, apenas porque escolhem esse modo de vida, mas porque a vida em sociedade é uma necessidade da natureza humana. Assim, por exemplo, se dependesse apenas da vontade, seria possível uma pessoa muito rica isolar-se em algum lugar, onde tivesse armazenado grande quantidade de alimentos. Mas essa pessoa estaria, em pouco tempo, sentindo falta de companhia, sofrendo a tristeza da solidão, precisando de alguém com quem falar e trocar ideias, necessitada de dar e receber afeto. E muito provavelmente ficaria louca se continuasse sozinha por muito tempo.
    Mas, justamente porque vivendo em sociedade é que a pessoa humana pode satisfazer suas necessidades, é preciso que a sociedade seja organizada de tal modo que sirva, realmente, para esse fim. E não basta que a vida social permita apenas a satisfação de algumas necessidades da pessoa humana ou de todas as necessidades de apenas algumas pessoas. A sociedade organizada com justiça é aquela em que se procura fazer com que todas as pessoas possam satisfazer todas as suas necessidades, é aquela em que todos, desde o momento em que nascem, têm as mesmas oportunidades, aquela em que os benefícios e encargos são repartidos igualmente entre todos.
    Para que essa repartição se faça com justiça, é preciso que todos procurem conhecer seus direitos exijam que eles sejam respeitados, como também devem conhecer e cumprir seus deveres e suas responsabilidades sociais.